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Via inalatória

CASOS CLÍNICOS

A exposição ocupacional ao clorofórmio, por inalação, trata-se do mais frequente meio de contacto com este solvente, tanto na indústria, como em laboratórios.

 

Foram reportados dois casos de hepatotoxicidade em trabalhadoras de uma fábrica na Coreia, em 2014.

 

Duas pacientes, do sexo feminino, com 34 e 41 anos, trabalharam numa sala de limpeza de material de endoscopia, durante 40 e 45 dias, respetivamente. Após um período prolongado de exposição ao clorofórmio, através da via inalatória, as pacientes experienciaram alguns sintomas como desconforto abdominal, náuseas, vómitos, prurido sistémico e icterícia. Foi confirmado por diagnóstico laboratorial que se tratava de uma lesão hepática grave.

 

Após uma inspeção ao local de trabalho das pacientes, verificou-se que a sala de limpeza apresentava elevadas concentrações de clorofórmio no ar, 82,74 e 64,24 ppm, nas duas vezes que foram mediadas. Estes valores são aproximadamente 6 vezes maiores que o limite legal de exposição ocupacional na Coreia. Também se verificou que apenas 7% do ar desta sala era introduzido a partir do exterior, o que contribuía para a saturação do ar.

Tanto a história clínica como a inspeção ao local de trabalho destas duas pacientes permitiram concluir que estes casos se deveram à exposição por inalação do clorofórmio.

[9]

Figure 1 - Sala de limpeza com trabalhadores a executarem as suas tarefas. 

a. Trabalhadores a manusearem componentes do material de endoscopia, dentro da sala de limpeza 

b. Verifica-se que a sala de limpeza está bastante isolada.

Existem ainda casos reportados de pessoas que utilizam o clorofórmio como droga de abuso.

Foi reportado o caso de uma mulher de 46 anos, que deu entrada no serviço de urgências, após ter inalado clorofórmio diariamente durante 6 dias consecutivos, devido aos seus efeitos narcóticos.

[8]

A via inalatória é a mais frequente e importante via de exposição ao clorofórmio. Cerca de 64%-67% do clorofórmio inspirado fica retido no corpo, sendo que a quantidade de clorofórmio inalada está diretamente relacionada com a sua concentração no ar, com o volume de ventilação e com a duração de exposição.

A inalação do clorofórmio pode causar toxicidade severa aguda, apresentando sintomas como os descritos anteriormente na secção "Toxicologia". Para além disso, a inalação de vapores concentrados de clorofórmio pode causar irritação das mucosas do nariz e da garganta. Falta de ar, hipotermia, depressão da motilidade gastrointestinal, acidose respiratória, hiperglicemia, cetoacidose, constrição do baço e aumento dos níveis de leucócitos são outras das consequências desta exposição.

Casos clínicos, envolvendo pacientes expostos ao clorofórmio como método de anestesia, reportaram que a sintomatologia surge quando expostos a 2490 mg m-3 e desconforto quando expostos a níveis abaixo dos 249 mg m-3. Tonturas e vertigens foram observadas em humanos expostos a 920 ppm de clorofórmio (4498 mg m-3) durante 3 minutos. Por último, a exposição a 40 000 ppm de clorofórmio (195 600 mg m-3) durante vários minutos pode ser letal.

Para induzir a anestesia, eram usados níveis de clorofórmio compreendidos entre 3 000 e 30 000 ppm (14,670 – 146,700 mg m-3).

[3, 8]

[3] Chloroform Toxicological overview. Disponível em: <https://www.gov.uk/government/uploads/system/uploads/attachment_data/file/338535/Chloroform_Toxicological_Overview.pdf>. Acesso em: 14 maio. 2016.

[8] Lionte C. Lethal complications after poisoning with chloroform--case report and literature review. Human & experimental toxicology. 2010;29(7):615-22.

[9] Kang YJ, Ahn J, Hwang YI. Acute liver injury in two workers exposed to chloroform in cleanrooms: a case report. Annals of occupational and environmental medicine. 2014;26(1):49.

Trabalho realizado no âmbito da disciplina de Toxicologia Mecanística no ano letivo 2015/2016 do Curso de Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP). Este trabalho tem a responsabilidade pedagógica e científica do Prof. Doutor Fernando Remião (remiao@ff.up.pt) do Laboratório de Toxicologia da FFUP.
 

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